"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

quinta-feira, novembro 29, 2007

O Grande Mestre dos Lutadores/Drunken Master/Zui quan - 醉拳 (1978)
Origem: Hong Kong
Duração: 107 minutos
Realizador: Yuen Woo Ping
Com: Jackie Chan, Simon Yuen, Hwang Jang Lee, Hsu Hsia, Dean Shek, Chiang Ching, Fung Jing Man, Lin Chiao, Linda Lin, Li Ying, Loong Chen Tien, Shih Fu Tsan, Shih Kien, Casanova Wong, Yeung Pan Pan, Brandy Yuen, Yuen Shun Yee
"Wong Fei Hung cumpre um castigo devido às suas trapalhadas"

“Wong Fei Hung” (Jackie Chan) é um jovem irresponsável que só se mete em sarilhos, provocando desta forma bastantes cabelos brancos ao pai, e ao mesmo tempo afectando a honra da escola de artes marciais da família. Um dia “Fei Hung” pisa o risco, fazendo umas tropelias com as pessoas erradas, a saber, a tia e a prima. O pai farto das acções do filho, decide discipliná-lo de uma forma veemente, e deixa-o ao cuidado de um tio chamado “So Hai” (Simon Yuen).

“So Hai” é um velho e mítico mestre de artes marciais, especializado na técnica dos “8 deuses bêbados”. O nome do estilo que pratica encaixa bem em “So Hai”, pois o mesmo é um alcoólico inveterado, que só pensa em ingerir vinho, sendo esta bebida o suporte fundamental para o sucesso do seu kung-fu. O mestre tem uma fama tenebrosa e que passa por deixar os seus alunos permanentemente aleijados, devido à exigência dos seus treinos, aspecto que “Fei Hung” cedo sente na pele.

"O delirante So Hai"

O herói farta-se do regime a que se encontra sujeito, e foge da tutela de “So Hai”. Contudo, cruza o caminho com “Yan” (Hwang Jang Lee), um poderoso assassino, e leva uma autêntica tareia daquele. Humilhado, “Fei Hung” decide voltar para “So Hai” e finda o seu treino, tornando-se num especialista na técnica inventada pelo seu mestre.

Entretanto, “Yan” é contratado para matar o pai de “Fei Hung”, o que provocará inevitavelmente um novo conflito. Só que desta vez, o herói encontra-se muito mais bem preparado!

"A tia de Fei Hung defende a honra da filha"

"Review"

Tecer considerações acerca de “Drunken Master”, é falar de um dos míticos filmes de Hong Kong, sendo considerado para muitos uma das mais brilhantes comédias de artes marciais provenientes da região administrativa chinesa, assim como um dos filmes de eleição da lenda daquelas paragens, Jackie Chan (à altura um jovem com 24 anos).

Não sendo eu propriamente um fã das longas-metragens do chamado “kung-fu old school”, ao contrário de por exemplo o Takeo ou a Aline, sou no entanto forçado a reconhecer que este meu pequeno espaço estava deveras incompleto sem uma resenha acerca de um filme que iniciou uma das mais populares sagas do cinema asiático, conquistando uma legião de fãs um pouco por todo o mundo. Já agora se me permitem o pequeno devaneio, este espaço nunca será um 100% completo, pois faltará sempre um filme emblemático para discorrer e trocar ideias com todos vocês. Ainda bem que assim o é, pois só prova que a realidade cinematográfica em geral, e a asiática em particular, se afigura dinâmica e anti-estanque. Tal constituirá sempre um desafio pessoal para a minha pessoa e que motivará a existência do “My Asian Movies” para o que der e vier. Amén!

O que significa então “Drunken Master” para um consumidor de cinema como eu, que possui as características de não nutrir uma particular admiração tanto pela cinematografia de kung-fu, assim como pela lenda Jackie Chan?

"O vilão Yan demonstra o seu potencial no kung fu"

Antes de tudo bastante entretenimento e boa disposição. “Drunken Master” (esqueçam agora o título que lhe foi dado em português), constitui uma película em que a acção e a comédia nunca nos abandonam até aos créditos finais e que revela ser uma excelente opção no final de um dia de trabalho extenuante, em que apenas queremos nos distrair com algo. As cenas de luta estão muito bem coreografadas, e entretêm ao máximo, sendo de uma grande elevação cómica o denominado “drunken boxing”. A habilidade natural de Jackie Chan a isso ajuda, e aqueles pontapés de Hwang Jang Lee são inesquecíveis (a versão dobrada foi neste caso feliz, ao denominar a personagem de Lee como "Pernas de Trovão - Thunderlegs"). Confesso, um pouco contra a minha vontade (será que ouvi alguém gritar faccioso?!), que a representação de Jackie Chan do estilo do 8º deus bêbado (neste caso uma deusa bêbada) “Miss So”, (para saber mais sobre a lenda dos oito deuses bêbados ir AQUI) me arrancou algumas gargalhadas sinceras. As mesmas foram potenciadas, quando a edição que comprei a um preço irrisório na “Worten” (cerca de 4 euros, para os visitantes brasileiros rondará 10,91 reais), tinha uma “certa particularidade”, que passo a explicar. Como a esmagadora maioria de nós, eu não aprecio nada os filmes “dobrados” em inglês. Então toca lá a pôr nas opções a língua originária dos intervenientes, com as legendas em português. Tudo corria bem, até de repente as personagens começarem a expressarem-se em inglês por um minuto ou dois, até voltarem novamente à língua autóctone (pelo que investiguei, o problema não parece ser apenas da edição portuguesa do filme). Não sei porquê, mas em vez de me chatear de sobremaneira, houve situações em que ri até ao delírio, como por exemplo numa cena Jackie Chan ser o herói Wong Fei Hung, e na outra logo a seguir já se transformar num ser denominado “Fred Wong”. Bem, sem comentários…quanto ao remanescente da comédia, o cabelo de “So Hai” (dahh, ninguém percebe que é uma peruca primária) e o ambiente geral de “nonsense” infantil fazem o resto!

Outro aspecto interessante desta longa-metragem é a abordagem à própria personagem de Wong Fei Hung. Como já foi referido noutras críticas deste espaço, Wong Fei Hung é um herói popular, que realmente existiu. E sendo uma figura tão importante para os chineses, é perfeitamente normal que a abordagem nos filmes revele um pendor heróico porventura exacerbado, e com um tratamento um pouco mais sério. Pense-se na saga “Era Uma Vez na China”, de Tsui Hark (para críticas neste blogue, ir AQUI e AQUI). No entanto, em “Drunken Master”, Fei Hung é tratado de uma forma completamente diferente. Os defeitos abundam, e aquele homem é um filho que todos os pais não sonham ter. É irresponsável, zaragateiro, oportunista, embora com um coração do tamanho do mundo. É claro que o heroísmo acaba por vir ao de cima, e degenere num excitante combate final.

Simon Yuen, o pai do realizador deste filme e o coreógrafo mundialmente conhecido Yuen Woo Ping, é “So Hai”, o genuíno “mestre bêbado” (passe a tradução livre). Jackie Chan, que dispensa qualquer tipo de apresentação (para o bem ou para o mal) é o discípulo ideal. Hwang Jang Lee é um vilão extremamente competente. As limitações representativas são por demais evidentes (não nos referimos às artes marciais, claro!), e o ar de série B da película não ajuda nada.
No entanto, sempre se aconselhará com alguma segurança o visionamento deste filme por algumas razões. É uma película com grande interesse histórico para a cinematografia asiática, para além de entreter e mostrar um Jackie Chan nos seus melhores momentos. Para os fãs do “kung fu old school”, é por demais obrigatório! Já agora, os mais eruditos poderão querer fazer uma pausa e descontrair de vez em quando…

"Yan vs. Fei Hung"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português/espanhol:

Avaliação:

Entretenimento - 10

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,88







segunda-feira, novembro 26, 2007

Votações do "My Asian Movies"

Já com algum atraso nesta semana, aqui vão mais quatro estrelas de cinema asiático que estão sob o vosso julgamento no quadro de votações aqui ao lado:

Jeon Ji-hyun (Jun Ji-hyun Aka Gianna Jun)

Informação


Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": My Sassy Girl, Il Mare, Windstruck


Tadanobu Asano


Informação


Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": Ondas Invisíveis, Ichi, o Assassino


Angela Zhang


Informação


Não existem filmes que participou, criticados no "My Asian Movies"


Gordon Liu


Informação


Não existem filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies"






terça-feira, novembro 20, 2007

Fim Feliz/Happy End/Haepi endeu - 해피 엔드 (1999)
Origem: Coreia do Sul
Duração: 100 minutos
Realizador: Jeong Ji-woo
Com: Choi Min-sik, Jeon Do-yeon, Joo Jin-moo, Kim Byeong-choon, Yoo Yeon-soo, Park Ji-il, Joo Hyeon
"Bora"

Estória

“Bora” (Jeon Do-yeon) é uma bem sucedida empresária, que mantém um relacionamento extra-conjugal com “Kim Ill-beom” (Joo Jin-moo), com quem tinha namorado anos atrás nos tempos da faculdade. “Bora” é casada com “Min-ki” (Choi Min-sik), um homem que perdeu o emprego e o orgulho, e que passa a vida tomar conta da lida de casa e a cuidar da bebé de ambos, para além de não perder as novelas dramáticas que são tanto do gosto dos coreanos e a ler estórias de amor numa livraria pertencente a um amigo.

"Min-ki"

“Min-ki” aos poucos vai descobrindo a vida paralela da mulher com o amante, e tal facto devasta-o de sobremaneira. Inesperadamente, resolve tomar o assunto em mãos, e prepara uma vingança terrível contra os amantes, substituindo a sua costumeira leitura “soft”, pelos livros de “suspense” e “thrillers” policiais. No entanto, após ter sido bem sucedido nos seus objectivos, a tão almejada felicidade acaba por não chegar e “Min-ki” consegue apenas obter uma vida de remorso e de culpa.


"Min-ki segura na filha tendo por fundo a traição"

"Review"

Corpos nus desfilam numa orgia de amor, degenerando em sexo explícito, embora interpretado de uma forma que o afasta da mera lascívia. É assim que começa “Fim Feliz”, com “Bora” e o seu amante “Kim Ill-beom”, numa cena tórrida que envergonharia filmes como “Instinto Fatal”, mas que nos consegue transmitir algo mais que o deleite visual e carnal. O filme de estreia do realizador Jeong Ji-woo primou pela polémica, em especial no seu país natal, onde não existe uma tradição de se fazerem muitos filmes que recorram aos atributos mais físicos (no sentido anteriormente descrito) de forma a expor os seus pontos de vista. No entanto, o choque não vive apenas da parte erótica da película, até porque não existem tantas cenas quanto isso. A meticulosidade no engendrar da vingança do marido traído, que culmina num género de violência que de certa forma nos apanha de surpresa, também tem a sua quota-parte.

Em “Fim Feliz”, estamos perante uma crise conjugal, que incide sobre uma típica família de classe média sul-coreana. Melhor dizendo, a base estrutural da dita família não é tão comum quanto isso, pois ao contrário do que é recorrente (hoje cada vez menos, diga-se em abono da verdade) o ganha-pão é a mulher bem sucedida na sua vida profissional, enquanto que o homem faz a vez do que comummente apelidamos de “dona de casa”. Como já foi acima aventado, é ele que se encarrega dos trabalhos domésticos, cuida da filha ainda bebé, faz as compras de supermercado, etc, etc. O seu estatuto de desempregado, obriga-o a isso. A esposa por vezes não tem pejo em atirar-lhe à cara factos relacionados com a sua suposta subalternização, ferindo o seu orgulho e masculinidade. O respeito é perdido, e a traição consumada pela mulher por diversas vezes.

Como podemos imaginar, o clima para o fim do núcleo familiar está reunido, mas de certa forma, não estamos propriamente preparados para a maneira como “Min-ki” decide tomar as rédeas da situação. Isto não quer dizer que muitas vezes não aconteçam tragédias, algumas mediáticas, que envolvam desaguisados conjugais. A teoria do “não és para mim, não és para ninguém”, infelizmente vinga e lá somos confrontados na comunicação social, com homicídios, suicídios, ácidos atirados à cara e afins. No entanto, o que pretendo dizer é que “Min-ki” adopta uma postura passiva, porventura dócil e somos aos poucos hipnotizados por este factor. Ao fim de hora e um quarto de filme, a película dá um volte face e deparamo-nos com um “Min-ki” que nos surpreende pela sua frieza e agir violento, perpetrando um crime brutal e ao mesmo tempo criando as condições necessárias para que um terceiro assaque as culpas.

"O drástico triângulo amoroso"


A apresentação que nos é feita das personagens não obriga a tomar partidos equidistantes. Todos são inocentes, como ao mesmo tempo, são culpados. Afinal estamos a falar de seres humanos. No entanto, é normal que sintamos alguma simpatia por “Min-ki” no papel do marido traído, porquanto a referida personagem cumpre à primeira vista com todos os objectivos a que está adstrito em razão das circunstâncias. Contudo, temos de certa forma compreender as motivações (mesmo que não concordemos, como é o meu caso) de “Bora”, uma mulher que sente merecer algo mais, e que “Min-ki” não consegue dar. Eventualmente paixão…”Ill-beom”, é o parceiro na traição, mas podemos discernir à distância que está sinceramente apaixonado por “Bora”, e que é capaz de fazer tudo por ela. Pelo exposto, o filme obriga a que não façamos julgamentos de valor precipitados.

Para quem está mais atento às lides do cinema asiático, sabe que Choi Min-sik é um intérprete de nível mundial, e pessoalmente o que colhe a minha preferência conjuntamente com Tony Leung Chiu Wai. Aqui oferece-nos mais uma actuação de um gabarito elevadíssimo. Já tive a oportunidade de visualizar grande parte da filmografia do actor, e começo a pensar seriamente que se existem coisas quase impossíveis de acontecer neste mundo, é Min-sik oferecer representações de nível abaixo do bom. O actor sul-coreano é, sem margem para qualquer dúvida, um senhor do cinema. Em “Fim Feliz”, encontra um parceiro à altura em Jeon Do-yeon, uma actriz que é como o algodão, definitivamente não engana. Sublime a forma como exterioriza os sentimentos e se envolve nas cenas mais quentes com a maior naturalidade possível. O seu talento foi recentemente reconhecido em Cannes, onde ganhou o prémio para melhor actriz no papel que representou em “Secret Sunshine – Milyang”. Jo Jin-moo, no papel do amante de “Bora”, constitui um vértice seguro e consistente do malfadado triângulo amoroso.

Tendo integrado a selecção do “Festival de Cannes” e do nosso “Fantasporto" – edição de 2001, “Fim Feliz” constitui uma boa proposta e que com certeza fará pensar uma ou duas vezes aqueles (as) que pretendam dar uma “facadinha” (passe a ironia; se visionarem o filme, irão entender) na relação. Além de provocarem uma mágoa difícil de esquecer, nunca se sabe como o outro lado pode reagir…e o fim normalmente não será tão feliz quanto isso.


"Os amantes beijam-se"

Trailer, The Internet Movies Database link

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,63




domingo, novembro 18, 2007

Votações do "My Asian Movies"

Apresento-vos mais 4 excelentes intérpretes de cinema asiático, que como já sabem, estão a votos aqui no blogue:
Kelly Chen

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": Infiltrados, Anna Magdalena

Eric Tsang

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": Infiltrados, Anna Magdalena, Ondas Invisíveis

Xu Jinglei

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": The Storm Riders

Chang Chen

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": O Tigre e o Dragão, 2046, Chinese Odyssey 2002



terça-feira, novembro 13, 2007

Era Uma Vez na China II/Once Upon a Time in China II/Wong Fei Hung ji yi: Naam yi dong ji keung - 黃飛鴻之二男兒當自強 (1992)

Origem: Hong Kong

Duração: 107 minutos

Realizador: Tsui Hark

Com: Jet Li, Rosamund Kwan, Donnie Yen, Max Mok, David Chiang, Xiong Xin Xin, Zhang Tie Lin, Yen Shi Kwan, Paul Fonoroff, Ho Ka Kui

"Wong Fei Hung"

Estória

“Wong Fei Hung” (Jet Li), acompanhado da sua paixão platónica a “Prima Yee” (Rosamund Kwan), e do seu discípulo “Foon” (Max Mok), dirige-se para a grande cidade de Cantão, tendo em vista participar numa conferência sobre duas vertentes da medicina, a ocidental e a chinesa. Cantão encontra-se em polvorosa, devido à seita do “Lótus Branco”, uma organização que é contra a presença dos estrangeiros na China, e que recorre à violência extrema para impor as suas ideias. O seu chefe é um sacerdote chamado “Kung” (Xiong Xin Xin), que supostamente é invencível.

O congresso de medicina é atacado pelo culto, e “Fei Hung” consegue sair ileso, fazendo amizade com um médico chinês, que não é nada mais nada menos que “Sun Yat Tsen”, o futuro fundador da república chinesa (e seu primeiro presidente) e responsável pela queda do imperador.

"A prima Yee"

“Tsen” anda a ser perseguido pelo regime imperial manchu, aqui personificado pelo comandante “Lan” (Donnie Yen). “Fei Hung” decide mais uma vez pôr cobro à injustiça reinante, e decide ajudar “Tsen” a chegar a Hong Kong, tendo em vista continuar o seu trabalho revolucionário. Pelo caminho, irá confrontar-se tanto com a seita do “Lótus Branco”, assim como terá de por cobro às atrocidades de “Lan”.

"O comandante Lan"

"Review"

Após os eventos ocorridos no primeiro filme, o carismático realizador Tsui Hark e a super-estrela Jet Li continuam uma das mais famosas epopeias de artes marciais a ver a luz do dia. E ao contrário do que sucede muitas vezes, a sequela não se saiu mal, diga-se de passagem. É para muitos considerada a melhor película da série, e diga-se em abono da verdade, não andarão muito longe da realidade, embora se reconheça que exista um ou outro aspecto que o primeiro episódio levará a melhor. O contrário também acontecerá.

Um dos itens que terá de se relevar será certamente o facto de termos um vilão à altura de Jet Li, ou seja, outra grande estrela de Hong Kong, o mítico Donnie Yen. Neste aspecto em particular, Tsui Hark teve a sageza de “emendar a mão” em relação ao primeiro filme. Podemos aqui ver um emocionante duelo protagonizado pelas duas lendas do cinema asiático, e garanto-vos que as expectativas não saem defraudadas. A forma como Donnie Yen transforma uma simples toalha numa arma mortífera, que cria especiais problemas a Jet Li, é praticamente inesquecível. O duelo veria a ser reeditado dez anos mais tarde em “Herói”, a obra-prima de Zhang Yimou. No entanto, seria particularmente injusto do meu ponto de vista não fazer uma especial apologia ao actor Xiong Xin Xin, que representa o maléfico líder da seita do “Lótus Branco”. A luta protagonizada com Jet Li consegue grandes momentos de espectacularidade e de tirar a respiração. É certo que o papel de Xiong Xin Xin acaba por ser um tanto ou quanto reduzido a nível de minutos, mas o combate vale bem o papel do actor. Não chega ao nível evidenciado por Xin Xin em “The Blade”, mas é de aplaudir.

"Wong Fei Hung luta contra o líder da seita Lótus Branco"

Subtraindo os costumeiros embaraços e tensão sentimental entre “Fei Hung” e a “Prima Yee” (aqui mais explorada), o “comic relief” que no primeiro filme estava entregue às personagens “Toucinho” e “Favolas”, interpretados por Kent Cheng e Jacky Cheung, respectivamente, fica nesta longa-metragem a cargo de Max Mok, o actor que dá vida a “Foon”, o discípulo de “Fei Hung”. Max Mok não se sai mal, e consegue a certa altura provocar alguns momentos de boa disposição. No entanto, é minha opinião pessoal que não chega a evidenciar o nível demonstrado por Kent Cheng e Jacky Cheung no episódio anterior, devido ao carisma dos actores em questão. Outro aspecto menos positivo na actuação de Max Mok, passará pela inevitável comparação com Yuen Biao, o actor que interpretava “Foon” em “Era Uma Vez na China”. Tinha referido, aquando da crítica ao primeiro filme, que os fãs de Yuen Biao podiam ficar um pouco desiludidos, pois o actor não demonstrava todas as suas potencialidades que indiscutivelmente possui a nível das artes marciais. Mas quando olhamos para Max Mok, sentimos saudades de Yuen Biao, pois aquele não parece nem de longe, nem de perto um bom “side kick” de Jet Li. Valha-nos, como já acima foi relatado, a presença de Donnie Yen e Xiong Xin Xin, para que as cenas de acção tenham brilho. E de facto possuem bastante!

A vertente nacionalista chinesa continua a marcar a sua presença, pois afinal “Wong Fei Hung” representa acima de tudo a defesa do tradicional modo de vida da nação oriental. No entanto aqui temos uma abordagem distinta da efectuada na primeira película e que passa sobretudo pelos meios como obtemos os resultados que pretendemos. A seita do “Lótus Branco” luta pelo mesmo objectivo de “Fei Hung”, a saber, a emancipação e conservação da cultura chinesa. No entanto, o culto envereda pela violência desmesurada e injustificada, enquanto que o nosso herói tudo faz para impor as suas ideias de uma forma honrada. A tensão floresce, como era de esperar, e “Fei Hung” acaba por ter de partir para o combate com os seus próprios conterrâneos, em ordem a salvaguardar valores que para si são intocáveis. Não será demais relembrar que no primeiro filme havia um conflito com outro mestre de artes marciais, mas tal se justificava pela primazia dos executantes, ou seja, averiguar qual dos dois seria o melhor. Era reconhecido, pelo menos implicitamente, que o principal inimigo eram os ocidentais que pretendiam enriquecer à custa do tráfico de escravos. No entanto, nesta película é mantido o pendor nacionalista, com o abominar do regime manchu e a introdução de uma das personagens mais emblemáticas da história da China moderna. Nada mais, nada menos que Sun Yat Tsen!

Quanto ao remanescente, “Era Uma Vez na China II” mantém muito do que já tinha sido transmitido pelo filme anterior, que resumidamente poderá ser reconduzido à continuação de uma saga que marcaria para sempre o mundo das artes marciais, constituindo um dos melhores trabalhos da carreira de Tsui Hark.

"Luta de titãs:Wong Fei Hung (Jet Li) Vs. Lan (Donnie Yen)"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 9

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,63







domingo, novembro 11, 2007

Votações do "My Asian Movies"

Cumprindo a tradição semanal, apresento-vos mais quatro intérpretes sujeitos à vossa apreciação:
Setsuko Hara

Informação

Não existem filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies"

Pat Morita

Informação

Não existem filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies"

Michelle Reis

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": Swordsman II , Fong Sai Yuk, Fong Sai Yuk II

Marc DaCascos

Informação

Não existem filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies"



quinta-feira, novembro 08, 2007

O desafio da página 161 - 5ª frase completa



A caríssima Izzi, administradora do "Noise and Sound", um blog que gosto particularmente, lançou-me um desafio deveras interessante e que anda a correr pela blogosfera nacional.

De que se trata?

Pelos vistos, temos de buscar o livro que está mais próximo de nós no momento em que tomamos conhecimento do repto, e folheá-lo até à página 161. Chegados aí, devemos transcrever no nosso site/blog a 5ª frase completa que consta no referido escrito.

Mesmo ao lado do computador, tinha o romance que ando literalmente a devorar, e que se chama "O Cavalo de Outubro". O mesmo faz parte da saga "O Primeiro Homem de Roma", da escritora Colleen McCullough. Sendo assim, aqui vai:

"Uma rajada forte de Cauro pareceu responder às suas preces."

Agora tenho que manter a corrente, e desafiar outros 5 bloguistas. Pois então, aqui vai:


Filho do 25 de Abril, de "Cenas Memoráveis da Sétima Arte"

Paula e Rui Lima, de "Paixões e Desejos"

Marcelino, de "Berdades"

blueminerva, de "Pérolas Intemporais"



terça-feira, novembro 06, 2007


As Filhas do Botânico/Les Filles du Botaniste/The Chinese Botanist's Daughters/Zhiwuyuan - 植物园 (2006)

Origem: França/Canadá

Duração: 94 minutos

Realizador: Dai Sijie

Com: : Mylène Jampanoi, Li Xiaoran, Fu Ling Dong, Wang Wei Chang, Nu Quynh Nguyen, Van Quang Nguyen, Linh Thj Bich Thu, Phuong Thanh, Tuo Jilin

Introdução

O filme que agora se vai analisar está inserido na rubrica deste espaço denominada “Cunho da Ásia”. Apesar de ser uma produção franco-canadiana, toda a película é falada em mandarim.

"An"

Estória

“Li Ming” (Mylène Jampanoi) perdeu os pais em criança, devido ao grande terramoto de Tangshan. Tendo crescido num orfanato, certo dia surge uma oportunidade para ir estudar durante seis semanas as propriedades medicinais das plantas, junto do “Senhor Chen” (Fu Ling Dong), um renomado botânico da cidade de Kunlin.

Chegada ao seu destino, “Li Ming” descobre que o “Senhor Chen” vive numa pequena ilha transformada num luxuriante jardim botânico, nos arredores da cidade. Igualmente se apercebe que se trata de uma pessoa muito introspectiva e que está habituado a ser obedecido. “An" (Li Xiaoran), a filha do “Senhor Chen”, fica feliz pela chegada de “Li Ming”, devido ao facto de ter agora alguém com quem desabafar e ajude a suportar melhor a vida solitária na ilha.

"Li Ming"

Rapidamente a amizade entre “Li Ming” e “An" evolui para algo mais, e nasce uma relação proibida entre as duas mulheres. Com as seis semanas a se expirarem, as amantes arranjam um artifício para prolongar a estadia de “Li Ming”, e que passa por esta contrair matrimónio com “Tan” (Wang Wei Chang), o irmão de “An". “Tan”, um soldado do Exército da Libertação do Povo, após o casamento é obrigado a ir para o Tibete, deixando rédea livre para que o romance entre a irmã e a agora esposa possa continuar imperturbado.

Tudo corre ao sabor das expectativas de “Li Ming” e de “An", até ao fatídico dia em que o “Senhor Chen” apanha em flagrante as duas raparigas nos seus actos proibidos…

"Alegria sob um fundo de sonho"

"Review"

“As Filhas do Botânico” foi um filme que desde o início despertou bastante a minha curiosidade, mas por razões alheias ou não à minha vontade, só tive oportunidade de visioná-lo há poucos dias. Foi a sessão que passou na “Casa das Mudas” na Calheta, uma vila aqui da Madeira, em que não pude ir por razões pessoais. Foram as vezes em que estive na secção de cinema asiático na “Fnac”, e encontrava sempre algum dvd que me atraía mais a atenção e o disco das “Filhas do Botânico” era relegado para segundo plano. Depois de conferir este filme, martirizei-me de sobremaneira e pus-me a pensar se arrumasse melhor o meu tempo, se calhar dava para ter ido vê-lo ao cinema, ou se o meu sexto sentido estivesse a funcionar como deveria de ser, já constaria da minha “dvdteca” há mais tempo. Porquê que digo isto? Simplesmente porque “As Filhas do Botânico” é uma excepcional obra de cinema. Já vos explico melhor o meu ponto de vista.

“La premiere des libertes est celle d’aimer “, “ The first of liberties is the one to love “, “A primeira das liberdades pessoais é escolher quem amamos (…aquele que amamos”)”. Esta é a “tagline” que consta na apresentação da longa-metragem que ora se analisa, e que muito diz sobre o filme. Constitui o início de uma viagem íntima pelos meandros da China pós-revolução cultural consubstanciada num romance proibido, constituindo o mesmo uma das mais belas estórias de amor que tive a oportunidade de visionar.

A primeira coisa que todos nós temos de fazer para apreciar verdadeiramente “As Filhas do Botânico” é pôr de parte os nossos preconceitos, o que constitui bastantes vezes um desafio pessoal. Os tais preconceitos, que não tenho vergonha em afirmar, vivem um pouco em mim. Tento-os combater, como qualquer pessoa, mas há sempre algo que reside em nós e que nos leva a lançar a costumeira “piadinha” maldosa trocada entre amigos do género “Ah, aquele (a) não engana! Joga no outro clube”. Pois é meus amigos, não estamos perante o romance convencional entre um homem e uma mulher, mas como já devem certamente ter-se apercebido, é-nos apresentada uma estória de amor lésbica. Mas a mesma é tão bem concebida, e os sentimentos explanados de uma forma tão sincera e apaixonada, que não podemos deixar de nos sentir comovidos e torcer para que tudo dê certo entre “Li Ming” e “An".É um orgulhoso heterossexual que vos afirma! Infelizmente, nem tudo corre bem (que se dane o quase “spoiler”!) e um sentimento de tristeza assome-nos. E essa melancolia é pura, e faz-nos imprecar contra tudo o que é injustiça neste mundo e arredores!

"Uma despedida sentida"

O realizador Dai Sijie faz uma crítica directa ao regime comunista chinês e que tem momentos cómicos como o pássaro enjaulado (repare-se no subtil pormenor) que constantemente repete afrase “Viva o presidente Mao!”. No entanto, esse mesmo momento é ironicamente inserido na película quando os momentos mais trágicos se sucedem, ou seja, as raparigas estão a passar o inferno na terra e lá aparece novamente o dito pássaro a apregoar a cantilena! Outro ataque (este mais directo) efectuado à renomada ditadura asiática, e que constitui um dos grandes momentos do filme passa pelo julgamento das amantes. Neste aspecto em concreto, Sijie foi acusado por alguns de ser extremamente manipulador, principalmente pelo facto de a homossexualidade, embora bastante criticada na China, não ser sancionada com a pena de morte. O caso em concreto é passível de ser alvo de várias interpretações e julgo sinceramente que a apontada pelos detractores de Sijie é extremamente redutora. Porque não entender que o realizador pretendeu apenas pôr o acento tónico no factor discriminação em si. Eu pessoalmente entendi que as protagonistas estavam a ser julgadas por homicídio, e que o seu relacionamento foi apenas um veículo que potenciou uma morte (atendendo à factualidade em concreto, posso-vos dizer que como jurista estes eventos em princípio nunca dariam lugar a uma condenação por homicídio em Portugal, e bem!). De qualquer maneira, é conhecida a animosidade que Sijie nutre pelo espectro político chinês, e que passará sobretudo pelas más experiências que teve com o mesmo. O realizador provém de uma família de classe média instruída, e durante a denominada “revolução cultural” frequentou um campo de reeducação entre 1971 e 1974. Cumpre ainda dizer que foi proibida a rodagem de “As Filhas do Botânico” na China devido ao seu conteúdo. Estará Sijie habilitado a umas maldades atendendo a estas situações. Talvez sim, talvez não, quem sabe?

Igualmente emergiram críticas que Mylène Jampanoi não sabia representar, ou que o filme se revelou tímido na exploração do romance lésbico entre “An" e “Li Ming”. Quanto ao primeiro aspecto tenho a dizer que nada é mais falso. Mylène Jampanoi, uma actriz que confesso o meu total desconhecimento quanto aos seus trabalhos anteriores, oferece-nos uma interpretação de elevada qualidade no papel da órfã reprimida, que liberta a sua sexualidade de uma forma inesperada, num país pouco tolerante. Agora é certo que é ofuscada e em muito pela magnífica representação e sublime beleza da actriz Li Xiaoran, uma intérprete que tem tudo para ser um caso sério no panorama do cinema asiático, e não só. Acho que disse tudo!

Quanto à suposta timidez na abordagem a um tema por natureza sensível, a saber, a relação homossexual, não podia discordar mais. Os sentimentos são explanados com uma grande profundidade, e que nos tocam imenso lá no fundo. Não me canso de dizer isto! Se estavam à espera da exploração gratuita das cenas mais físicas, enganem-se. Para isso existem variados produtos no mercado a que podem recorrer. Suavemente, sentimos a intensidade do amor de “An" e “Li Ming”. O efeito é conseguido com um grande “sex appeal”, e uma obra de arte é realizada. Nada mais interessa.

Com uma banda-sonora para ouvir, fazendo chorar bastante e por mais, acompanhada por uma fotografia esplendorosa que eleva competentemente as quase inultrapassáveis paisagens vietnamitas, “As Filhas do Botânico” é um filme lindo em praticamente todos os seus aspectos, e destina-se àqueles que possuem um coração. Como em certos aspectos sou optimista, gosto de pensar que todos nós, sem excepção, temos um a bater no peito…

" O prelúdio de um beijo"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português/espanhol:

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 10

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 10

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M" - 9

Classificação final: 8,75








segunda-feira, novembro 05, 2007

Votações do "My Asian Movies"

Faye Wong

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": 2046, Chinese Odyssey 2002

Takeshi Kitano

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": Battle Royale

Athena Chu

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": A Chinese Odyssey Part One: Pandora's Box, A Chinese Odyssey Part Two: Cinderella, Chinese Odyssey 2002

Daniel Wu

Informação

Filmes em que participou, criticados no "My Asian Movies": The Banquet - Inimigos do Império , One Nite in Mongkok, A Dinastia da Espada, Beijing Rocks



domingo, novembro 04, 2007

Akira - アキラ (1988)

Origem: Japão

Duração: 124 minutos

Realização: Katsuhiro Otomo

Vozes das personagens principais - versão japonesa: Mitsuo Iwata (Kaneda), Nozomu Sasaki (Tetsuo), Mami Koyama (Kay), Tesshô Genda (Ryu), Hiroshi Ôtake (Nezu), Yuriko Fuchizaki (Kaori), Masaaki Ôkura (Yamagata)

"Kaneda"

Estória

Em 1988, Tóquio é completamente destruída por uma explosão desencadeada por uma misteriosa força, que dá origem à III Guerra Mundial. A devastação e a miséria grassam, e o mundo é quase aniquilado. Trinta anos depois, em 2019, no local onde outrora existia Tóquio, foi construída uma nova metrópole futurística, sugestivamente denominada de “Neo Tóquio”. A cidade é um poço de convulsão, onde a instabilidade política, o terrorismo e os cultos religiosos contribuem para a decadência total e os gangs de motoqueiros fazem lei.

“Kaneda” e “Tetsuo” são dois grandes amigos, que fazem parte de um dos vários gangs de motoqueiros que dominam as ruas de “Neo Tóquio”. Certo dia, no meio de uma batalha de motorizadas com um grupo rival, “Tetsuo” depara-se com uma estranha criança e é raptado por uma organização governamental de índole militar, que está por detrás de um projecto denominado “Akira”.

"Tetsuo"

“Tetsuo” começa a desenvolver estranhas e poderosas faculdades psíquicas, assim como a sofrer de estranhas alucinações, que aos poucos o fazem enlouquecer. O resultado é que “Tetsuo” decide, fazendo uso das suas espantosas habilidades, provocar uma tragédia com uma magnitude superior à ocorrida em Tóquio em 1988. Caberá, entre outros, a “Kaneda” evitar que tal suceda.

"Tetsuo irrompe das chamas"

"Review"

Baseado na manga de Katsuhiro Otomo, que também é o realizador desta película, “Akira” é quase unanimemente considerado como um dos filmes de anime mais bem concebidos na história, tendo à altura sido igualmente o que deteve maior orçamento. Ainda hoje esta ideia mantém-se, apesar de terem decorrido quase 20 anos desde a sua feitura, o que comprova a grande qualidade evidenciada por mais este produto de animação oriundo do Japão. Atrevo-me mesmo a afirmar que existe um verdadeiro culto em torno desta longa-metragem.

Impregnado numa atmosfera muito “cyberpunk”, “Akira” trilhará em certos aspectos, e com as devidas diferenças (que até são muitas), os caminhos de “Ghost in the Shell” e “Néon Génesis Evangelion”. Aliás, será mais correcto afirmar que estes dois últimos filmes é que trilharão, de certa forma, os caminhos de “Akira”, porquanto o filme que ora se analisa é mais antigo. Por isso fãs de animes que versem sobre destruição em massa e cenários apocalípticos, atenção que este filme é definitivamente para vocês! No entanto, mesmo para os restantes que preferem outros subgéneros de “anime”, valerá a pena conferir “Akira”, atendendo à sua grande qualidade e importância no universo em que se insere. Eu por exemplo, tenho uma preferência natural por “animes” na linha de “Ninja Scroll”, imbuídos de uma aura histórico/épica/trágica, cuja acção decorra no Japão Feudal. Contudo, a qualidade e a escolha é tão grande que invariavelmente sinto uma certa simpatia por muitas películas que não se enquadrem neste segmento. “Akira” faz parte deste grupo.

A atmosfera é bastante negra e urbana, como não poderia deixar de ser. O país está num estado lastimável, o espectro político é tremendamente desolador e extremamente conflituoso, o que leva a que muitos jovens não antevejam um futuro esperançoso e, por esse mesmo motivo, desemboquem na delinquência. A cidade de “Neo Tóquio” reflecte de sobremaneira o pessimismo latente, com um “cocktail” feito de arranha-céus e de bairros degradados, ou então de avenidas largas e ruas sujas. O cenário ideal para a progressiva paranóia de “Tetsuo”, e que o levará a querer destruir tudo o que exista à face da urbe futurística.

"Neo Tóquio é uma cidade onde a violência é a lei"

“Akira” tem um argumento bastante bem construído, assentando numa base forte e que teve uma excelente ideia, quiçá inovadora, por detrás. Contudo, o espectador poderá sentir-se por vezes confuso e até mesmo perdido, no meio do grande manancial de emoções e tramas que envolvem a película. A culpa será sem dúvida do uso e abuso das considerações filosóficas, ideológicas e sociológicas que norteiam todo o caminho de “Akira”, e que se tenta fazer passar para o espectador. As motivações de “Tetsuo” são minimamente líquidas. O rapaz carece sempre da invariável protecção do seu amigo “Kaneda”, sendo muitas vezes visto como o elo mais fraco do gang. Quando descobre o grande potencial destrutivo que possui, resolve pôr fim a um mundo que não foi nada meigo com ele, e porventura fundar uma nova ordem mundial, onde ele adquira a predominância.
Afigura-se igualmente interessante seguir a trama política colateral, em que nos deparamos com meia dúzia de “figurões” que nada fazem pelo bem comum, preferindo pugnar pelos seus interesses pessoais. O resultado é os latentes conflitos sociais, possíveis apenas de controlar devido à repressão policial, e que a certa altura torna-se ainda mais drástico quando a própria polícia se vira contra o exército. A aura revolucionária está toda lá, constituindo “Akira” um filme visionário e que deixa um aviso metafórico para as gerações futuras.

A animação é de elevada qualidade, embora possa perder algo para os “animes” que são realizados actualmente. Contudo, isso só acontecerá com os melhores produtos, pois hoje em dia ainda são realizados muitos filmes de animação que perdem aos pontos para “Akira”, ou que nem de perto ou de longe se lhe comparam. Li algures que “Akira” foi verdadeiramente inovador no sentido de por exemplo permitir que não apenas a boca das personagens se movesse aquando das falas, mas a face toda, como é normal. O resultado foi uma animação com um expressionismo muito maior do que era corrente à altura. Se existe defeito de maior que se lhe aponte, será o desenho das faces dos adolescentes, que faz com que todos sejam bastante parecidos uns com os outros, seja rapaz ou rapariga. As cenas mais violentas e movimentadas (existem muitas) roçam a perfeição.

Não será um “anime” para “ver todos os dias”, atendendo ao cansaço, desgaste e esforço mental que provoca em quem o visiona. Será isso sim, um “dvd” a constar obrigatoriamente na colecção de qualquer fã que se preze, de forma a “tê-lo à mão”, e colocar no leitor quando não se sentir psicologicamente exaurido! Até porque é absolutamente necessário assistir a este filme mais do que uma vez, de forma a entranharmos minimamente a sua mensagem…


"A metamorfose de Tetsuo"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: AnimeHaus

Avaliação:

Entretenimento - 8

Animação - 8

Argumento - 9

Banda-sonora - 7

Emotividade - 8

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,14




quinta-feira, novembro 01, 2007

Basilisk - O Fim

Vi há pouco o último episódio da série de anime "Basilisk" na SIC Radical, e acabou da maneira que eu já estava à espera, ou seja, uma tragédia total que confesso me emocionou um pouco. Esta meia-hora de todas as quintas-feiras era um bálsamo semanal, fazendo com que eu desligasse todas as luzes do meu quarto e bebesse cada cena do conflito fatal que opunha os clãs ninjas Iga e Kouga, ou do malfadado amor de Oboro e Gennosuke. Ai, sem dúvida que as quintas-feiras ficaram mais pobres...